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Bento XVI - noticias e artigos

Ultimo Aggiornamento: 13/11/2008 20:55
09/03/2006 05:05
 
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Deus é amor
D. Eugenio Sales


Arcebispo emérito do Rio

No ano passado, o mundo pôde avaliar a importância da figura do Papa, independentemente de sua missão estritamente confessional. A agonia, a morte e as exéquias do Papa João Paulo II e a eleição de Bento XVI, retransmitidas pelo mundo, foram acompanhadas em todo o universo.
A 25 de janeiro é publicada no Vaticano a primeira Encíclica de Bento XVI. A cobertura dada pelos meios de comunicação social revela o interesse despertado por toda a parte.

A Encíclica é uma maneira de o Sucessor de Pedro exercer o seu Magistério. Normalmente se dirige aos católicos, com um conteúdo confessional. Outras vezes, a matéria interessa aos seguidores de outras crenças ou mesmo aos alheios a temas religiosos, como é o caso da recente publicação. Esse documento ''Deus é Caridade'' (''Deus é Amor'') sobre o amor cristão, data de 25 de dezembro, Solenidade do Nascimento de Jesus e a divulgação ocorreu a 25 de janeiro, quando a Liturgia celebra a Conversão de São Paulo. A primeira parte trata da ''A unidade do amor na Criação e na História da Salvação''. Diz o Papa: ''O termo 'amor' tornou-se hoje uma das palavras mais usadas e mesmo abusadas, à qual associamos significados completamente diferentes'' (nº 2). Diz o documento: ''Ao amor entre homem e mulher, que não nasce da inteligência e da vontade, mas de certa forma impõe-se ao ser humano, a Grécia antiga deu o nome de eros. Diga-se desde já que o Antigo Testamento grego usa só duas vezes a palavra eros, enquanto o Novo Testamento nunca a usa: das três palavras gregas relacionadas com o amor - eros, philia (amor de amizade) e ágape - os escritos neotestamentários privilegiam a última'' (nº3) (...). ''O eros necessita de disciplina, de purificação para dar ao homem não o prazer de um instante, mas uma certa amostra do vértice da existência, daquela beatitude para que tende todo o nosso ser'' (nº 4). Dessa rápida visão sobre a concepção do eros na história e na atualidade, resulta que o caminho a seguir ''não consiste em deixar-se simplesmente subjugar pelo instinto. São necessários purificações e amadurecimentos, que passam também pela estrada da renúncia. Isto não é rejeição do eros, não é o seu ''envenenamento'', mas a cura em ordem à sua verdadeira grandeza'' (nº 5). E adiante: ''O eros degradado a puro 'sexo' torna-se mercadoria, torna-se simplesmente uma 'coisa' que se pode comprar e vender (...) ao contrário, a fé cristã sempre considerou o homem um ser em que espírito e matéria se compenetram mutuamente, experimentando ambos precisamente desta forma uma nova nobreza. Sim, o eros quer-nos elevar 'em êxtase' para o Divino, conduzir-nos para além de nós próprios, mas por isso mesmo requer um caminho de ascese, renúncias, purificações e saneamentos'' (Ibidem). ''Deste modo, o eros é enobrecido ao máximo, mas simultaneamente tão purificado que se funde com a ágape'' (nº 10).

A Encíclica em sua segunda parte trata da ''Caritas'' - a prática do amor pela Igreja enquanto ''Comunidade de amor''. Esse outro aspecto vem mostrar que ela é profundamente humana e leva o cristão a se preservar com toda a humanidade. ''Portanto, é amor o serviço que a Igreja exerce para acorrer constantemente aos sofrimentos e às necessidades, mesmo materiais, dos homens. É sobre este aspecto, sobre este serviço da caridade, que desejo deter-me nesta segunda parte da Encíclica'' (nº 19), diz o Santo Padre. Trata-se de um dever de cada fiel e da comunidade eclesial inteira. ''A natureza íntima da Igreja exprime-se num tríplice dever: anúncio da Palavra de Deus (''kerygma-martyria''), celebração dos Sacramentos (''leiturgia''), serviço da caridade (''diakonia''). São deveres que se reclamam mutuamente, não podendo um ser separado dos outros. Para a Igreja, a caridade não é uma espécie de atividade de assistência social que se poderia mesmo deixar a outros, mas pertence à sua natureza, é expressão irrenunciável da sua própria essência'' (nº 25).

Ao tratar da Justiça e Amor caridade, o Papa aborda a justa ordem do Estado como dever central da política. ''A Igreja não pode nem deve tomar nas suas próprias mãos a batalha política para realizar a sociedade mais justa possível. Não pode nem deve colocar-se no lugar do Estado. Mas também não pode nem deve ficar à margem na luta pela Justiça'' (nº 28). ''O dever imediato de trabalhar por uma ordem justa na sociedade é próprio dos fiéis leigos'' (nº 29).

Sobre as múltiplas estruturas do serviço caritativo no atual contexto social, aborda a situação geral do empenho pela Justiça e o amor no mundo atual. A presença dos meios de comunicação social merece do Vaticano II a seguinte observação: ''No nosso tempo, em que os meios de comunicação são mais rápidos, em que quase se venceu a distância entre os homens, (...) a atividade caritativa pode e deve atingir as necessidades de todos os homens'' (Apostolicam Actuositatem, nº 8). Por outro lado, o processo de globalização ''põe à nossa disposição inumeráveis instrumentos para prestar ajuda humanitária aos irmãos necessitados'' (nº 30).

Sobre o perfil específico da atividade caritativa da Igreja, aumenta o número de organizações diversificadas, que se dedicam ao homem em suas várias necessidades. A força do cristianismo propaga-se muito para além das fronteiras da fé cristã. Por isso, diz a Encíclica, ''é muito importante que a atividade caritativa da Igreja mantenha todo o seu esplendor e não se dissolva na organização assistencial comum, tornando-se uma simples variante da mesma'' (nº 31). O modelo oferecido é a parábola do bom Samaritano. Não é apenas dar o material, ''mas uma conseqüência resultante da sua fé que se torna operativa pelo amor (...). Deve ser independente de partidos e ideologias (...) não deve ser um meio em função daquilo que hoje é indicado como proselitismo'' (Idem).

Ao tratar de ''Os responsáveis da ação caritativa da Igreja'', coloca-a como integrante de sua própria estrutura. A síntese é o hino à caridade de São Paulo (1Cor 13). ''Ainda que distribua todos os meus bens em esmolas e entregue o meu corpo a fim de ser queimado, se não tiver caridade, de nada me aproveita'' (v.3). Diz o Santo Padre: ''Nele se encontram resumidas todas as reflexões que fiz sobre o amor, ao longo desta Carta Encíclica'' (nº 34). Eis o caminho traçado pelo Sucessor de Pedro. Vamos segui-lo.

www.jb.com.br
09/03/2006 07:13
 
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Oposição critica encontro entre papa e Berlusconi antes de pleito




Roma, 6 mar (EFE).- A oposição italiana criticou hoje que o papa Bento XVI receba Silvio Berlusconi no encontro que o Pontífice manterá com os líderes da direita européia no fim de março e que acontecerá poucos dias antes das eleições no país.

Bento XVI oferecerá uma audiência aos representantes do Partido Popular Europeu, que se reunirão na Itália para seu Congresso trienal nos dias 30 e 31, embora a data da audiência ainda não tenha sido fixada com exatidão.

No encontro, estarão presentes mais de 200 políticos conservadores, liderados pelo presidente do partido, Hans Poettering.

Entre esses 200 políticos estarão, além do chefe do Governo italiano, o presidente do Parlamento, Pier Ferdinando Casini, e o democrata-cristão Clemente Mastella, cujo grupo UDEUR faz parte da União, a aliança da oposição que concorrerá às eleições de 9 e 10 de abril.

Embora não esteja prevista nenhuma audiência privada, a oposição criticou a visita porque considera que os políticos da direita italiana a planejaram como um ato eleitoral.

A oposição denunciou que a audiência representa a ruptura de uma prática consolidada: os máximos chefes da Igreja Católica não se reúnem com políticos italianos durante as épocas de campanha eleitoral.

A candidata do partido Democratas de Esquerda, Livia Turco, para quem existe uma instrumentalização política da religião, declarou: "este papa, sinceramente, surpreende. No início do seu pontificado parecia ter certa distância da política... No entanto..." O líder do partido Refundação Comunista, Fausto Bertinoti, comentou que "é difícil não falar de uma ingerência" da Igreja e pediu ao Vaticano que "volte a pensar" sobre a conveniência da visita.

Mastella, questionado por alguns membros da União, assinalou que considera a visita um ato normal e chegou a qualificar de "anticatólico" o fato de que uma audiência do papa esteja sendo vista como "um anúncio eleitoral".

EFE wm dgr/ca
10/03/2006 03:24
 
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Bento XVI:Quaresma, tempo favorável para uma revisão de vida
editorfc

Viver uma autêntica liberdade implica que se superem as tentações: de fato a tentação é a provação que a própria liberdade contém. E o Papa convida ao recolhimento, oração e penitência, sublinhando a imagem bíblica do deserto como metáfora bastante eloqüente da condição humana. Bento XVI que, na tarde de ontem, iniciou os exercícios espirituais da Quaresma juntamente com a Cúria Romana, afirmou-o durante a oração mariana do Ângelus, recitada da janela dos seus aposentos, perante milhares de pessoas congregadas na Praça de São Pedro. Comentando o trecho no qual o evangelista Marcos narra as tentações de Jesus no deserto, o Papa observou que a imagem do deserto é uma metáfora bastante eloqüente da condição humana e recordou a experiência do povo de Israel contada no livro do Êxodo. "Durante aquela viagem os hebreus experimentaram toda a força e insistência do tentador que os impelia a perder a confiança no Senhor e a voltar para traz; mas ao mesmo tempo, graças à mediação de Moisés, aprenderam a escutar a voz de Deus que os chamava a tornar-se Seu povo Santo". Refletindo sobre isto, para o Papa compreendemos que para realizar plenamente a vida na liberdade, é necessário superar a provação que a própria liberdade contém, isto é a tentação. "Somente libertada da escravidão da mentira e do pecado, a pessoa humana, graças à obediência da fé que abre à verdade, encontra o sentido pleno da sua existência e atinge a paz, o amor e a alegria". Bento XVI recordou depois que a Quaresma, com recolhimento, oração e penitência, constitui um tempo favorável para uma autêntica revisão de vida e pediu aos fiéis que acompanhem com a oração o seu retiro quaresmal. "Os Exercícios Espirituais que como é tradição acontecem aqui no Palácio Apostólico, ajudar-me-ão e aos meus colaboradores da Cúria Romana, a entrar com maior consciência neste característico clima quaresmal". Depois da forte denúncia de quinta-feira passada sobre os perigos do neo-colonialismo Bento XVI repetiu neste domingo o seu apelo para que o Evangelho abra novos caminhos à cooperação entre povos da Europa e da África.Recordou que sábado, dia 11 de março, acontecerá uma vigília mariana organizada pelos jovens universitários de Roma. Nela participarão, graças a uma série de transmissões ao vivo por rádio e televisões, também numerosos estudantes de outros países europeus e africanos. Em ligação via satélite participarão de fato neste encontro com o Papa os jovens universitários de Dublim, Friburgo, Madrid, Munique, Sofia, Salamanca, S. Petroburgo e Abidjão (Costa do Marfim) Antananarive (Madagascar), Nairobi (Quênia) e Owerri (Nigéria). No final terá lugar a peregrinação da Cruz da Aula Paulo VI no Vaticano até á igreja de Santa Inês em Agone na Praça Navona.


Fonte: SIR


10/03/2006 03:26
 
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Papa envia bênção aos bispos do Brasil reunidos no Rio
editorfc

O Papa Bento XVI, em telegrama ao cardeal Eusébio Scheid, enviou ontem, terça-feira, uma bênção aos 106 bispos do Brasil inscritos no 16º Curso para Bispos promovido pela Arquidiocese do Rio e que tem por tema “A comunicação social para a Evangelização”.

Esta é a íntegra do telegrama:

Eminência Reverendíssima

Tenho a grata satisfação de informar que o Santo Padre, ao tomar conhecimento da realização do XVI Curso de renovação teológica e espiritual para o episcopado brasileiro, deseja exprimir Seu vivo apreço pela iniciativa dessa Arquidiocese, na certeza de que, à Luz do Divino Consolador, dele se beneficiarão os seus participantes e todo o rebanho que lhes é confiado.

A oportuna escolha do tema “Comunicação social para a Evangelização” vem a coincidir com o apelo de Bento XVI, na sua recente Mensagem para o Dia Mundial da Paz, ao ressaltar que é ‘dever de todos os católicos intensificar, em todas as partes do mundo, o anúncio e o testemunho do Evangelho da Paz, proclamando (...) o reconhecimento da verdade plena de Deus’ (11). Possa este auspício do Sucessor de Pedro servir de estímulo para que, à luz do Espírito Santo, se vislumbrem os meios mais adequados para a difusão da Palavra de Deus em toda a sua amplitude.


Com estes votos, Sua Santidade envia aos senhores cardeais e bispos presentes uma propiciadora Bênção Apostólica, que de bom grado faz extensiva às comunidades diocesanas representadas.





Cardeal Angelo Sodano
Secretário de Estado


08/02/2006



10/03/2006 05:48
 
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Só o amor é digno de fé (I)



Maria Clara L. Bingemer


Teóloga

Para quem esperava uma encíclica disciplinar ou um texto que aprofundasse o conteúdo de algum dogma, a primeira encíclica do papa Bento XVI surpreende. Devo dizer que a mim, como católica, surpreende agradavelmente. Trata-se de um texto bem escrito e profundo, que deixa patente o grande teólogo que continua sendo Joseph Ratzinger, mesmo como papa. O pastor supremo que se dirige à Igreja universal é suportado em sua reflexão e discurso de maneira consistente e feliz pelo sólido teólogo que sempre foi o atual papa.


O tema da encíclica não poderia ser mais nuclear e fundamental. Trata-se do coração do cristianismo. Mais: trata-se da grande originalidade que o cristianismo trouxe para o mundo religioso e que encontrou, para explicitar quem é o Deus em que crê, a experiência humana mais importante e constitutiva dos seres humanos: o amor. Deus é amor, dirá a primeira carta de João, texto mais belo do Novo Testamento. E é essa definição que inspirará o pontífice na carta que entrega aos fiéis do mundo inteiro.



A motivação de Bento XVI para escrever sua primeira encíclica com este visceral tema é - parece-nos - extremamente oportuna. Como diz o próprio texto em sua introdução, ''dado que Deus foi o primeiro a amar-nos (cf. 1 Jo 4, 10), agora o amor já não é apenas um 'mandamento', mas é a resposta ao dom do amor com que Deus vem ao nosso encontro. Num mundo em que ao nome de Deus se associa às vezes a vingança, ou mesmo o dever do ódio e da violência, esta é uma mensagem de grande atualidade e de significado muito concreto. Por isso, afirma: ''na minha primeira encíclica, desejo falar do amor com que Deus nos cumula e que deve ser comunicado aos outros por nós''.




Na primeira parte de sua encíclica, Bento XVI se propõe esclarecer o campo semântico da palavra ''amor'', assim como expor sua trajetória no mundo judaico e greco-romano, a fim de delimitar bem qual a compreensão cristã na Bíblia e na tradição da Igreja. Ao fundo, evidentemente, encontra-se a preocupação do papa desde o tempo em que ainda era cardeal, à frente do Santo Ofício, sobre os rumos do mundo atual, tomado pela ''ditadura do relativismo''.



Ao longo de toda esta primeira parte procura conceituar com precisão a diferença e a interface entre ''eros'' e ''ágape''. Trata-se de tema que tem sido objeto de alentados estudos de filosofia e teologia em todos os tempos. Entretanto, o tratamento dado por Bento XVI é reconhecidamente preciso e adequado, trazendo à tona toda a cultura filosófica, filológica e teológica daquele que escreve. A antropologia que aparece ao fundo da reflexão é integrada, não separando espírito de carne e sobretudo não desprezando este em benefício daquele.



De certa maneira, portanto, o papa resgata toda a positividade do eros, reconhecendo a inelidibilidade de sua presença como componente constitutivo da dinâmica do amor humano. Porém acrescenta que ''embora o eros seja inicialmente sobretudo ambicioso, ascendente - fascinação pela grande promessa de felicidade - depois, à medida que se aproxima do outro, fará cada vez menos perguntas sobre si próprio, procurará sempre mais a felicidade do outro, preocupar-se-á cada vez mais dele, doar-se-á e desejará 'existir para' o outro''. Assim se insere nele o momento da ágape; caso contrário, o eros decai e perde mesmo a sua própria natureza.



A primeira parte da encíclica destina-se, portanto, a derrubar alguns preconceitos que viam o cristianismo como destrutor do eros. Situar a correta perspectiva na concepção da ágape como amor que sai de si na entrega e na doação para fazer o outro feliz. Numa época em que as relações amorosas caminham sobretudo na direção da busca da própria felicidade antes de qualquer outra coisa, a fé cristã proclama que amar é justamente sair de si e buscar a felicidade do outro. Só assim existe amor verdadeiro e felicidade possível.



Entretanto, continua o papa, o ser humano não poderia dar-se, sair de si, sacrificar-se abnegadamente no exercício de amar se não recebesse, também, amor. O amor só pode acontecer em sua forma agápica se existe uma fonte de onde bebe incessantemente. Essa fonte é Deus. Por que Deus nos amou primeiro, podemos então amar gratuita e oblativamente, pois sempre estará disponível para nós a fonte divina jorrando incansavelmente Seu infinito amor. ''O mandamento do amor - coração do cristianismo - só se torna possível porque não é mera exigência: o amor pode ser um imperativo porque antes nos é dado.'' Portanto, só ele é digno de fé, porque é o próprio conteúdo da fé.

FB- Online
10/03/2006 05:52
 
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Só o amor é digno de fé (II)



Maria Clara L. Bingemer


Teóloga

Continuando nossa reflexão e comentário sobre a primeira encíclica do pontificado do Papa Bento XVI, tomamos agora a segunda parte, na qual o pontífice reflete e disserta sobre a caridade cristã, manifestação do amor de Deus que é Ele mesmo amor e comunhão de amor: Pai, Filho e Espírito Santo. O Papa inicia esta segunda parte de sua encíclica recordando uma frase do grande Agostinho de Hipona, talvez o maior gênio do Cristianismo: ''Se vês a caridade, vês a Trindade''. Com isso já dá a perspectiva de sua encíclica, que vai ressaltar a dimensão do amor cristão enquanto ajuda e serviço ao outro, sobretudo ao mais necessitado. Isto será a única coisa que no mundo poderá ser reflexo e imagem do amor que é Deus.


Ao fazer um percurso sobre a prática da caridade na história da Igreja, o Papa destaca alguns textos dos Santos Padres de escolha bastante feliz, a nosso ver. Entre eles, destacamos sua citação de Tertuliano, escritor cristão do século 3, na qual conta como a solicitude dos cristãos pelos necessitados de qualquer gênero suscitava a admiração dos pagãos (n. 22) e ao imperador Juliano, o Apóstata, do século 4, pagão escandalizado com a brutalidade e a violência usada pelos soldados do imperador cristão Constâncio no assassinato de várias pessoas, inclusive membros de sua família, e que terminará por escrever que o único aspecto do cristianismo que o maravilhava era a atividade caritativa da Igreja (n. 25).



Assim a encíclica continua desenvolvendo a idéia de que o cristianismo não concebe uma fé que não opere pela caridade. Aquele que crê é necessariamente levado ao amor caritativo, pois sua experiência de fé o fará aproximar-se e beber da fonte do amor que é o próprio Deus. E só o testemunho de sua caridade fará digno de fé seu estatuto de cristão. Por isso, o fato de na comunidade cristã haver membros que passem necessidade é um grande escândalo que só depõe contra o cristianismo. Esse escândalo é denunciado pelo Papa em sua encíclica.



A encíclica admite que a luta pela justiça é parte constitutiva da atividade caritativa da Igreja. E afirma que se ''na difícil situação em que hoje nos encontramos por causa também da globalização da economia, a doutrina social da Igreja tornou-se uma indicação fundamental, que propõe válidas orientações muito para além das fronteiras eclesiais: tais orientações - face ao progresso em ato - devem ser analisadas em diálogo com todos aqueles que se preocupam seriamente com o homem e o seu mundo'' (n. 27). Admite igualmente a necessária conexão entre fé e política. Se as exigências da caridade feita luta pela justiça assim o exigirem, a intervenção na ''polis'', o exercício da administração da cidade e da sociedade é plenamente legítima para um cristão.



Admitindo, no entanto, a possibilidade de a Igreja exercer sua ação caritativa e sua luta pela justiça em parceria e colaboração com outras instâncias da sociedade, o Papa se preocupa em caracterizar bem o que é a caridade cristã e o que não. Para um cristão, sua atividade caritativa deve ser iluminada pela fé, que por sua vez funciona como purificadora da razão. A doutrina social católica, portanto, não pretende conferir à Igreja poder sobre o Estado, nem pretende impor aos que não compartilham da fé cristã atitudes e comportamentos que pertencem a esta. Portanto, o Papa vai concluir que, se a Igreja não deve tomar o lugar do Estado na batalha política pela sociedade mais justa, tampouco pode ficar à margem desta. A luta pela justiça é constitutivamente componente da vida e da caridade cristãs.



No entanto, continua, há outros serviços que não têm um impacto de eficácia imediato sobre a justiça social e que também não podem estar ausentes do horizonte cristão, já que são expressões privilegiadas do amor. A encíclica enumera toda a lista dos atos que o amor inventa para aliviar o sofrimento humano e que não têm retorno algum aparente e imediato: consolar os infelizes, cuidar dos doentes, enterrar os mortos e muitos outros.



A encíclica conclui definindo as características da caridade cristã: ''segundo o modelo oferecido pela parábola do bom samaritano, a caridade cristã é, em primeiro lugar, simplesmente a resposta àquilo que, numa determinada situação, constitui a necessidade imediata: os famintos devem ser saciados, os nus vestidos, os doentes tratados para se curarem, os presos visitados, etc.'' (n.31). Mas também e inseparavelmente deve dar testemunho d'Aquele que é sua fonte e condição: Deus, experimentado e definido pelo cristianismo desde sempre como Amor.






JB - Online
10/03/2006 21:26
 
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THANKS FOR ADDING THE PORTUGUESE SECTION, love reading this language!!!!!
11/03/2006 19:10
 
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Bento XVI, o sério




A máxima dessa vez não se confirmou. O cardeal alemão Joseph Ratzinger entrou para o conclave na Capela Sistina como um forte candidato a papa. Saiu como Bento XVI, cujo pontificado nasce em uma demonstração de força. Numa das eleições mais curtas da história, a Igreja Católica emergiu para um novo capítulo buscando no século 5 os rumos e a motivação dogmática para compreender e atravessar o século 21. A velocidade com que a fumaça negra foi substituída pela branca na chaminé da capela mostra a dimensão dessa urgência apresentada aos purpurados.


A escolha do prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé vislumbrou-se na leitura da homilia na missa Pro Eligendo Romano Pontifice, celebrada segunda-feira, com a qual o decano dos cardeais pediu a inspiração do Espírito Santo. Ratzinger fez um alerta para que se evitasse a ''ditadura do relativismo'' e afirmou que ''a Igreja precisava se opor às ondas de tendências e às últimas novidades''. O ardor na defesa das doutrinas tradicionais trouxe uma quebra do protocolo secular da sucessão papal: em uma celebração aberta pela primeira vez ao público, o colégio dos cardeais o aplaudiu em peso. Se até então o pré-conclave demarcava dois blocos, um pró Ratzinger e outro mais liberal - que ainda buscava um nome para enfrentá-lo -, a reação inédita deixou claro que a sucessão se definira.



Bento XVI assume sob o signo de uma austeridade ligada às raízes da instituição. Depois de João XXIII, o bom, de João Paulo I, o papa sorriso, e de João Paulo II, o peregrino, o Sumo Pontífice do Terceiro Milênio deve ser o papa sério. A indicação desse compromisso está na História. O inspirador de Ratzinger nasceu em 480, em Nursia. Em plena decadência do Império Romano, deixou a lascívia que Roma oferecia para refundar a Igreja a partir da introspecção e da busca pelo espírito no monastério. Fugindo da tentação, optou por uma vida de atenção às palavras de Deus, da qual surgiram as regras que se tornariam um paradigma na Europa.



O paralelo, como se vê, é evidente. Os cardeais escolheram como eleito de Deus alguém que tornou-se poderoso pelo ardor com que exerceu o papel de guardião da doutrina católica, na qual a palavra obediência volta a ser, a partir de agora, símbolo e norma ao mesmo tempo. Como força política, a Igreja de Bento XVI, mais do que nunca, terá uma feição monolítica, coesa, minimalista na expressão, irredutível na atuação e impermeável às questões que a modernidade apresenta.



A reação de desapontamento capturada aqui e ali pela escolha de alguém tão refratário às transformações sociais produzidas pela revolução tecnológica é compreensível. Enquanto João Paulo II, tão conservador quanto seu sucessor, estendia os braços até que os dedos tocassem nas bordas da atuação eclesiástica, Bento XVI pretende observá-las a distância, do trono de São Pedro. Governará da Europa, de olho na Europa.



O novo papa não pretende discutir sobre os avanços da ciência no campo antes exclusivo da fé; vai reafirmar, sim, o domínio desta acima de qualquer outra manifestação, mesmo que signifique perder de vista a vanguarda do conhecimento. Não deve atuar com o mesmo viés político, uma vez que o mundo pelo qual Karol Wojtyla se bateu, dividido entre o comunismo e o liberalismo, mudou de feição, e as ameaças, segundo Ratzinger, se esconderiam não mais nos regimes, mas nos ventos de reforma nos quais inclui discussões sobre o papel das mulheres, o homossexualismo e a Aids. O sopro bafejado do Concílio Vaticano II, assim, se tornaria ainda mais tênue do que já é.



Em muitos discursos e comentários após a indicação, porém, manifestou-se a esperança de que o Espírito Santo e o peso da investidura papal possam equilibrar os pesos e medidas no novo pontificado. Há sinais de que Bento XVI possa vir a ser um Sumo Pontífice afeito ao diálogo. Em entrevista ao Jornal do Brasil, na única vez em que esteve no Brasil, em julho de 1990, Joseph Ratzinger afirmou que ''conciliar unidade de fé e multiformidade de culturas não é um conflito, é uma tarefa para os que professam a fé cristã''. Que assim seja.

Jornal do Brasil - Online
11/03/2006 19:23
 
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Papa estabelece significativas mudanças na Cúria Romana

Une «por hora» a presidência de quatro conselhos vaticanos em dois cardeais

CIDADE DO VATICANO, domingo, 12 de março de 2006 (ZENIT.org).- Bento XI uniu temporariamente a presidência de quatro conselhos da Santa Sé em dois cardeais, segundo anunciou esse sábado a Sala de Informação da Santa Sé.

O Santo Padre acolheu a renúncia apresentada por razões de idade pelo cardeal japonês Stephen Fumio Hamao, presidente do Conselho Pontifício da Pastoral para os Migrantes e os Itinerantes, e «por hora uniu a presidência deste Conselho à do Conselho Pontifício Justiça e Paz», afirma o anúncio vaticano.

«Por conseguinte --acrescenta--, o Papa nomeou o cardeal Renato Raffaele Martino novo presidente do Conselho Pontifício da Pastoral Para os Migrantes e os Itinerantes».

O cardeal Martino, de 73 anos é presidente do Conselho Pontifício Justiça e Paz desde outubro de 2002. Antes havia sido, na qualidade de núncio apostólico, observador permanente da Santa Sé nas Nações Unidas em Nova York.

O anúncio explica desta forma que «com o objetivo de favorecer um diálogo mais intenso entre os homens de cultura e os expoentes das diferentes religiões, o Papa uniu por hora a presidência do Conselho Pontifício para o Diálogo Inter-religioso à do Conselho Pontifício para a Cultura e, por conseguinte, nomeou o cardeal Paul Poupard como presidente do Conselho Pontifício para o Diálogo Inter-religioso».

Este cargo era desempenhado até pouco pelo arcebispo britânico Dom Michael Louis Fitzgerald, que foi nomeado núncio apostólico no Egito e delegado da Santa Sé ante a Organização da Liga dos Estados Árabes.

O cardeal Paul Poupard, de 75 anos, foi colaborador de João XXIII e de Paulo VI na secretaria de Estado. João Paulo II nomeou-o presidente do Secretariado para os Não Crentes (1980) e presidente do Conselho Pontifício para a Cultura desde sua criação (1982).

A iniciativa de unir a presidência de quatro dicastérios na pessoa de dois cardeais é um sinal que aponta, segundo comentaram os analistas vaticanos ao dar a notícia, para a proposta de redução de estruturas da Cúria Romana, sugerida no passado pelo cardeal Joseph Ratzinger.
12/03/2006 22:26
 
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Papa apresenta a universitários da África e Europa a chave para construir um mundo mais justo

Preside o Rosário junto a universitários de ambos continentes conectados por satélite

CIDADE DO VATICANO, domingo, 12 de março de 2006 (ZENIT.org).- Graças às novas tecnologias, Bento XVI pôde dirigir-se esse sábado a universitários de doze cidades da Europa e África e apresentar-lhes a chave para construir um mundo mais justo: a verdade fundamental da fé cristã, «Deus é amor».

Por este motivo, ao final do encontro, durante o qual se rezou o Rosário, entregou simbolicamente sua primeira encíclica «Deus caritas est» a alguns dos representantes dos jovens.

«Gostaria de entregá-la a todos os universitários da Europa e da África com o desejo de que a verdade fundamental da fé cristã – Deus é amor – ilumine o caminho de cada um de vós e se irradie através de vosso testemunho a vossos companheiros de estudo», afirmou.

«Esta verdade sobre o amor de Deus, origem, sentido e fim do universo e da história --acrescentou-- foi revelada por Jesus Cristo, com a palavra e com a vida, particularmente em sua Páscoa de morte e ressurreição».

«É o fundamento da experiência cristã --sublinhou-- que, como fermento, é capaz de fazer fermentar toda cultura humana para que expresse o melhor de si e coopere no crescimento de um mundo mais justo e pacífico», indicou.

O Papa falava acompanhado pelos milhares de universitários de Roma, que na Sala Paulo VI do Vaticano reviveram momentos parecidos aos das Jornadas Mundiais da Juventude.

Graças ao satélite, e acompanhados por seus bispos, encontravam-se também presentes universitários de Bonn, Dublin, Friburgo, Madri, Munique, Salamanca, São Petersburgo, Sofia, Abidjan, Antananarivo, Owerri e Nairobi.

O Papa, que pôde ver nas telas os rostos dos jovens dos diferentes continentes, que desde seus países dirigiram os diferentes mistérios do Rosário, reconheceu que «se trata de um belo gesto da comunhão da Igreja Católica».

«Esta vigília mariana --declarou--, tão querida pelo Papa João Paulo II, estende pontes de fraternidade entre os jovens universitários da Europa, e esta tarde as amplia até tocar o grande continente africano para que cresça a comunhão entre as novas gerações e se difunda a civilização do amor».

«Por este motivo --reconheceu-- desejo fazer chegar aos amigos que estão conectados conosco desde a África um abraço particularmente carinhoso, que quero estender a todas as queridas populações africanas», assegurou.

Antes de despedir-se, o Papa convidou os universitários a unir-se à celebração da Jornada Mundial da Juventude, que neste ano acontecerá nas diferentes dioceses.

Aos jovens romanos, o Santo Padre convidou participar de um encontro que com este motivo acontecerá em 6 de abril na praça de São Pedro.

«Acolheremos a Cruz peregrina, procedente de Colônia, e recordaremos com coração agradecido, um ano depois de sua morte, meu grande predecessor, João Paulo II», anunciou aos rapazes e moças.

Ao mesmo tempo convidou-os a ler a mensagem que lhes dirigiu por ocasião desta Jornada, que tem por lema: «Tua palavra é lâmpada para os meus pés e luz para o meu caminho».

Em 2007 as jornadas da juventude acontecerão nas dioceses. Em julho de 2008 celebrar-se-ão em Sydney, Austrália.




[Modificato da @Nessuna@ 12/03/2006 22.27]

14/03/2006 07:05
 
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Bento XVI: a palavra de Deus ajuda em momentos de escuridão

EFE


Cidade do Vaticano, 12 mar (EFE).- O papa Bento XVI disse hoje a seus fiéis, presentes na Praça de São Pedro, que "a palavra de Deus" os ajudará "nos momentos de escuridão" da vida.

O Pontífice fez essa declaração por ocasião da tradicional Oração do Ângelus, que reza todos os domingos no Vaticano, onde costumam comparecer milhares de peregrinos para ver seu líder espiritual.

Joseph Ratzinger lembrou que durante a última semana esteve em retiro espiritual. "Foram dias dedicados inteiramente a ouvir o Senhor, que sempre nos fala".

O Bispo de Roma disse que "a existência humana é um caminho de fé e, como tal, tem mais penumbra do que luz plena, não sem momentos de escuridão e, inclusive, de trevas".

E depois disse a seus fiéis: "Nossa relação com Deus provém mais da audição do que da visão; e a contemplação atua, por assim dizer, com os olhos fechados, graças à luz interior acesa em nós pela Palavra de Deus".

Ratzinger terminou ontem seus primeiros exercícios espirituais como papa, durante os quais suspendeu suas atividades de rotina. Ao término de seu retiro, reformou a Cúria, um movimento esperado há muito tempo na Igreja Católica.

O papa decidiu unir o Conselho Pontifício para a Pastoral dos Emigrantes com o Conselho Pontifício Justiça e Paz, e colocá-los sob a Presidência do cardeal Renato Martino.

O Pontífice também unificou o Conselho Pontifício para a Cultura e o dedicado ao Diálogo Ecumênico "com o objetivo de favorecer um diálogo mais intenso entre os homens da cultura e os membros de outras religiões", informou o Vaticano.


EFE ig fav/ag
14/03/2006 07:20
 
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Diretor do Programa Mundial de Alimentos elogia compromisso do Papa contra fome


CIDADE DO VATICANO, segunda-feira, 13 de março de 2006 (ZENIT.org)- James Morris, diretor executivo do Programa Mundial de Alimentos da Organização das Nações Unidas (ONU), elogiou esta segunda-feira o trabalho de Bento XVI a favor dos pobres do mundo, após ter sido recebido em audiência no Vaticano.

«É uma honra e uma benção encontrar um dos líderes internacionais no campo humanitário, o chefe de uma das maiores organizações religiosas do mundo, a Igreja Católica», disse Morris após o encontro.

«Todas as grandes religiões mundiais chamam seus crentes a socorrer os pobres e dar de comer aos famintos. O Programa Mundial de Alimentos (PMA) está profundamente agradecido pelo trabalho das organizações católicas no mundo», indicou.

O representante do Programa Mundial de Alimentos agradeceu a ajuda que prestam muitas instituições católicas na luta contra a fome particularmente na África, Ásia e América Latina.

O Programa Mundial de Alimentos tem por objetivo ajudar as vítimas das crises de alimentação e da pobreza. Calcula-se que mais de 852 milhões de pessoas no mundo sofrem de fome, das quais cerca de 300 milhões são crianças.

«Nossa esperança é um mundo no qual as crianças possam crescer e estudar sem temor a fome. Devemos unir-nos todos os indivíduos de fé. O sustento espiritual, moral e material da Igreja e do Papa Bento XVI representa uma benção especial», acrescentou.

Cada ano, o PMA ajuda a paliar as necessidades de alimentação dos mais pobres, dando apoio a 90 milhões de pessoas, inclusive 61 milhões de crianças em ao menos 80 países.

Na visita ao Vaticano, também estiveram presentes a esposa de Morris, a subdiretora do organismo das Nações Unidas, Sheila Sisulu, e a assistente, Rina Manzo, segundo assinalou um comunicado de imprensa.




15/03/2006 01:27
 
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HOMILIA DO SANTO PADRE BENTO XVI

NA MISSA DO INÍCIO DO MINISTÉRIO DE SUPREMO PASTOR





Senhores cardeais,

Venerados irmãos no episcopado e no sacerdócio,

Distintas autoridades e membros do Corpo diplomático,

Queridos irmãos e irmãs:



Por três vezes, nestes dias tão intensos, o canto da ladainha dos santos nos acompanhou: durante o funeral de nosso Santo Padre João Paulo II; por ocasião do ingresso dos Cardeais no Conclave, e também hoje, quando novamente a cantamos com a invocação: Tu illum adiuva - assiste o novo sucessor de S. Pedro. Todas as vezes senti este canto de oração, de um modo completamente singular, como um grande consolo. Como nos sentimos abandonados após o falecimento de João Paulo II! O Papa que por 26 anos foi nosso pastor e guia no caminho através de nossos tempos. Ele cruzou o limiar para a outra vida, entrando no mistério de Deus. Mas não deu este passo sozinho. Quem crê, nunca está sozinho; não o está na vida nem tampouco na morte. Naquele momento, pudemos invocar os santos de todos os séculos, seus amigos, seus irmãos na fé, sabendo que teriam sido o cortejo vivo que o acompanharia para o além, até a glória de Deus. Nós sabíamos que ali se esperava sua chegada. Agora sabemos que ele está entre os seus e se encontra realmente em sua casa. Fomos consolados de novo realizando a solene entrada no conclave para eleger o que Deus havia escolhido. Como poderíamos reconhecer seu nome? Como 115 Bispos, procedentes de todas as culturas e países, podiam encontrar a quem Deus queria outorgar a missão de ligar e desligar? Uma vez mais, sabíamos que não estávamos sós, que estávamos rodeados, guiados e conduzidos pelos amigos de Deus. E agora, neste momento, eu, frágil servo de Deus, devo assumir esta tarefa incrível, que supera realmente toda capacidade humana. Como posso fazê-lo? Como serei capaz de levá-lo a cabo? Todos vós, queridos amigos, acabastes de invocar toda a multidão de santos, representada por alguns dos grandes nomes da história que Deus faz com os homens. Deste modo, também em mim se reaviva esta consciência: não estou sozinho. Não tenho de levar, eu só, o que, na realidade, nunca poderia suportar sozinho. A multidão dos santos de Deus me protege, sustenta-me e me conduz. E me acompanham, queridos amigos, vossas orações, vossa indulgência, vosso amor, vossa fé e vossa esperança. Com efeito, à comunidade dos santos não pertencem só as grandes figuras que nos precederam e cujos nomes conhecemos. Todos nós somos a comunidade dos santos; nós, batizados no nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo; nós, que vivemos do dom da carne e do sangue de Cristo, por meio do qual quer transformar-nos e fazer-nos semelhantes a si mesmo. Sim, a Igreja está viva; esta é a maravilhosa experiência destes dias. Precisamente nos tristes dias da enfermidade e da morte do Papa, algo se manifestou de modo maravilhoso ante nossos olhos: que a Igreja está viva. E a Igreja é jovem. Ela leva em si mesma o futuro do mundo e, portanto, indica também a cada um de nós a via para o futuro. A Igreja está viva e nós vemos: experimentamos a alegria que o Ressuscitado prometeu aos seus. A Igreja está viva - é viva: porque Cristo está vivo, porque Ele ressuscitou verdadeiramente. Na dor que aparecia no rosto do Santo Padre nos dias de Páscoa, contemplamos o mistério da paixão de Cristo e tocamos ao mesmo tempo suas feridas. Mas em todos estes dias também pudemos tocar, em um sentido profundo, o Ressuscitado. Pudemos experimentar a alegria que ele prometeu, depois de um breve tempo de escuridão, como fruto de sua ressurreição.

A Igreja está viva: deste modo saúdo com grande alegria e gratidão todos vós que estais aqui reunidos, veneráveis irmãos cardeais e Bispos, queridos sacerdotes, diáconos, agentes de pastoral e catequistas. Saúdo-vos, religiosos e religiosas, testemunhas da presença transfigurante de Deus. Saúdo-vos, fiéis leigos, imersos no grande campo da construção do Reino de Deus que se expande no mundo, em qualquer manifestação da vida. A saudação se enche de afeto ao dirigi-la também a todos os que, renascidos no sacramento do Batismo, ainda não estão em plena comunhão conosco; e a vós, irmãos do povo hebreu, ao que estamos estreitamente unidos por um grande patrimônio espiritual comum, que funde suas raízes nas irrevogáveis promessas de Deus. Penso, enfim - quase como uma onda que se expande - em todos os homens de nosso tempo, crentes e não-crentes.

Queridos amigos! Neste momento não necessito de apresentar um programa de governo. Alguma marca do que considero minha tarefa, pude expor já em minha mensagem da quarta-feira, 20 de abril; não faltarão outras ocasiões para fazê-lo. Meu verdadeiro programa de governo é não fazer minha vontade, não seguir minhas próprias idéias, mas pôr-me, junto com toda a Igreja, à escuta da palavra e da vontade do Senhor e deixar-me conduzir por Ele, de tal modo que seja ele mesmo que conduza a Igreja nesta hora de nossa história. Em lugar de expor um programa, desejaria mais tentar comentar simplesmente os dois sinais com os quais se representa liturgicamente o início do Ministério Petrino; ambos sinais refletem também exatamente o que se proclamou nas leituras de hoje.

O primeiro sinal é o Pálio, tecido de lã pura, que se me põe sobre os ombros. Este sinal antiqüíssimo, que os Bispos de Roma levam desde o século IV, pode ser considerado uma imagem do jugo de Cristo, que o Bispo desta cidade, o Servo dos Servos de Deus, toma sobre seus ombros. O julgo de Deus é a vontade de Deus que nós acolhemos. E esta vontade não é um peso exterior, que nos oprime e nos priva da liberdade. Conhecer o que Deus quer, conhecer qual é o caminho da vida, era a alegria de Israel, seu grande privilégio. Esta é também nossa alegria: a vontade de Deus, em vez de afastar-nos de nossa própria identidade, purifica-nos - talvez às vezes de maneira dolorosa - e nos faz voltar deste modo a nós mesmos. E assim não servimos somente a Ele, mas também à salvação de todo o mundo, de toda a história. Na realidade, o simbolismo do pálio é mais concreto ainda: a lã de cordeiro representa a ovelha perdida, enferma ou fraca, que o pastor leva nas costas para conduzi-la às águas da vida. A parábola da ovelha perdida, que o pastor busca no deserto, foi para os Padres da Igreja uma imagem do mistério de Cristo e da Igreja. A humanidade - todos nós - é a ovelha desgarrada no deserto que já não pode encontrar a senda. O Filho de Deus não consente que ocorra isto; não pode abandonar a humanidade em semelhante condição miserável. Põe-se de pé, abandona a glória do céu, para ir à busca da ovelha e ir atrás dela, inclusive até a cruz. Coloca-a sobre seus ombros, carrega com nossa humanidade, leva-nos a nós mesmos, pois Ele é o bom pastor, que oferece sua vida pelas ovelhas. O pálio indica em primeiro lugar que Cristo leva todos nós. Mas, ao mesmo tempo, convida-nos a levar-nos uns aos outros. Converte-se assim no símbolo da missão do pastor do que falam a segunda leitura e o Evangelho de hoje. A santa inquietude de Cristo há de animar o pastor: não é indiferente para ele que muitas pessoas vaguem pelo deserto. E há muitas formas de deserto: o deserto da pobreza, o deserto da fome e da sede; o deserto do abandono, da solidão, do amor destruído. Existe também o deserto da escuridão de Deus, do vazio das almas que já não têm consciência da dignidade e do rumo do homem. Os desertos exteriores multiplicam-se no mundo, porque se estenderam os desertos interiores. Por isso, os tesouros da terra já não estão ao serviço do cultivo do jardim de Deus, no qual todos podem viver, mas subjugados ao poder da exploração e da destruição. A Igreja em seu conjunto, assim como seus Pastores, hão de pôr-se em caminho como Cristo para resgatar os homens do deserto e conduzi-los ao lugar da vida, para a amizade com o Filho de Deus, para Aquele que nos dá a vida, e a vida em plenitude. O símbolo do cordeiro tem ainda outro aspecto.

Era costume no antigo Oriente que os reis chamassem a si mesmos como pastores de seu povo. Era uma imagem de seu poder, uma imagem cínica: para eles, os povos eram como ovelhas das quais o pastor podia dispor a seu agrado. Pelo contrário, o pastor de todos os homens, o Deus vivo, fez-se Ele mesmo cordeiro, pôs-se o lado dos cordeiros, dos que são pisoteados e sacrificados. Precisamente assim se revela Ele como o verdadeiro pastor: «Eu sou o bom pastor [...]. Eu dou minha vida pelas ovelhas», diz Jesus de si mesmo (João 10, 14s). Não é o poder o que redime, mas o amor. Este é o distintivo de Deus: Ele mesmo é amor. Quantas vezes desejaríamos que Deus se mostrasse mais forte! Que Ele golpeasse duramente, derrotasse o mal e criasse um mundo melhor. Todas as ideologias do poder se justificam assim, justificam a destruição do que se oporá ao progresso e à libertação da humanidade. Nós sofremos pela paciência de Deus. Por outro lado, todos necessitamos de sua paciência. O Deus, que se fez cordeiro, diz-nos que o mundo se salva pelo Crucificado e não pelos crucificadores. O mundo é redimido pela paciência de Deus e destruído pela impaciência dos homens.

Uma das características fundamentais do pastor deve ser amar os homens que lhe foram confiados, tal como Cristo ama, a quem se dedica. «Apascenta minhas ovelhas», diz Cristo a Pedro, e também a mim, neste momento. Apascentar quer dizer amar, e amar quer dizer também estar dispostos a sofrer. Amar significa dar o verdadeiro bem às ovelhas, o alimento da verdade de Deus, da palavra de Deus; o alimento de sua presença, que ele nos dá no Santíssimo Sacramento. Queridos amigos, neste momento só posso dizer: rogai por mim, para que eu aprenda a amar cada vez mais o Senhor. Rogai por mim, para que eu aprenda a querer cada vez mais seu rebanho, a vós, a Santa Igreja, a cada um de vós, tanto pessoal como comunitariamente. Rogai por mim, para que, por medo, eu não fuja diante os lobos. Roguemos uns pelos outros para que seja o Senhor quem nos leve e nós aprendamos a levar-nos uns aos outros.

O segundo sinal com o qual a liturgia de hoje representa o começo do Ministério Petrino é a entrega do anel do pescador. O chamado de Pedro a ser pastor, que ouvimos no Evangelho, vem depois da narração de uma pesca abundante; depois de uma noite na qual encheram as redes sem êxito, os discípulos viram na margem o Senhor ressuscitado. Ele lhes manda voltar a pescar outra vez, e eis aí que a rede se enche tanto que não tinham forças para tirá-la; havia 153 peixes grandes e, «ainda que eram tantos, não se rompeu a rede» (João 21, 11). Este relato ao final do caminho terreno de Jesus com seus discípulos se corresponde com um do princípio: tampouco os discípulos não haviam pescado nada durante toda a noite; também naquela ocasião Jesus convidou Simão a remar mar adentro. E Simão, que ainda não se chamava Pedro, deu aquela admirável resposta: «Mestre, por tua palavra eu lançarei as redes». Foi-lhe confiada então a missão: «Não temas! De ora em diante serás pescador de homens» (Lucas 5, 1.11).

Também hoje se diz à Igreja e aos Sucessores dos Apóstolos: “Façam-se ao largo” no mar da história e encham as redes, para conquistar os homens para o Evangelho, para Deus, para Cristo, para a vida verdadeira. Os Padres dedicaram também um comentário muito particular a esta tarefa singular. Dizem assim: para o peixe, criado para viver na água, resulta mortal tirá-lo do mar. É privado de seu elemento vital para convertê-lo em alimento do homem. Mas na missão do pescador de homens ocorre o contrário. Nós homens vivemos alienados, nas águas salgadas do sofrimento e da morte; em um mar de escuridão, sem luz. A rede do Evangelho nos resgata das águas da morte e nos leva ao resplendor da luz de Deus, à vida verdadeira. Assim é, efetivamente: na missão de pescador de homens, seguindo a Cristo. Precisamos tirar os homens do mar, salgado por todas as alienações, e levá-lo à terra da vida, à luz de Deus. Assim é, em verdade: nós existimos para ensinar Deus aos homens. E unicamente onde se vê Deus, começa realmente a vida. Só quando encontramos em Cristo o Deus vivo, conhecemos o que é a vida. Não somos o produto casual e sem sentido da evolução. Cada um de nós é o fruto de um pensamento de Deus. Cada um de nós é querido, cada um é amado, cada um é necessário. Nada há de mais maravilhoso que ter sido alcançados, surpreendidos, pelo Evangelho, por Cristo. Nada mais belo que conhecê-lo e comunicar aos outros a amizade com ele. A tarefa do pastor, do pescador de homens, pode parecer às vezes grave. Mas é gozosa e grande, porque em definitivo é um serviço à alegria, à alegria de Deus que quer fazer sua entrada no mundo.

Quero acentuar ainda uma coisa: tanto na imagem do pastor como na do pescador, emerge de maneira muito explícita o chamado à unidade. «Tenho, também, outras ovelhas que não são deste redil; também estas eu tenho de trazer, e escutarão minha voz e haverá um só rebanho, um só Pastor» (João 10, 16), diz Jesus ao final do discurso do bom pastor. E o relato dos 153 peixes termina com a gozosa constatação: «E ainda que fossem tantos, não se rompeu a rede» (João 21, 11). Ai de mim, Senhor amado! Agora a rede se quebrou, dizemos doloridos. Mas não, não devemos estar tristes! Alegremo-nos por tua promessa que não defrauda e façamos todo o possível para percorrer o caminho para a unidade que tu prometeste. Façamos memória dela na oração ao Senhor, como mendigos; sim, Senhor, lembra-te do que prometeste. Faze que sejamos um só pastor e um só rebanho! Não permitas que se rompa tua rede e ajuda-nos a ser servidores da unidade!

Neste momento minha recordação volta ao 22 de outubro de 1978, quando o Papa João Paulo II iniciou seu ministério aqui na Praça de São Pedro. Ainda, e continuamente, ressoam em meus ouvidos suas palavras de então: «Não temais! Abri, mais ainda, abri de par em par as portas para Cristo!». O Papa falava aos fortes, aos poderosos do mundo, os quais tinham medo de que Cristo pudesse tirar-lhes algo de seu poder, se o tivessem deixado entrar e tivessem concedido a liberdade à fé. Sim, ele certamente lhes haveria tirado algo: o domínio da corrupção, do quebrantamento do direito e da arbitrariedade. Mas não lhes haveria tirado nada do que pertence à liberdade do homem, a sua dignidade, à edificação de uma sociedade justa. Também, o Papa falava a todos os homens, sobretudo aos jovens. Acaso não temos de algum modo medo - se deixamos entrar Cristo totalmente dentro de nós, se nos abrimos totalmente a ele - , medo de que ele possa tirar algo de nossa vida? Acaso não temos medo de renunciar a algo grande, único, que faz a vida mais bela? Não corremos o risco de encontrarmo-nos logo na angústia e vermo-nos privados da liberdade? E ainda o Papa queria dizer: não! Quem deixa Cristo entrar não perde nada, nada - absolutamente nada - do que faz a vida livre, bela e grande. Não! Só com esta amizade se abrem as portas da vida. Só com esta amizade se abrem realmente as grandes potencialidades da condição humana. Só com esta amizade experimentamos o que é belo e o que nos liberta. Assim, hoje, eu quero, com grande força e grande convicção, a partir da experiência de uma longa vida pessoal, dizer a todos vós, queridos jovens: Não tenhais medo de Cristo! Ele não tira nada, concede tudo. Quem se dá a ele, recebe cem por um. Sim, abri, abri de par em par as portas para Cristo, e encontrareis a verdadeira vida. Amém.






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16/03/2006 06:14
 
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Ao eleger papa o alemão Ratzinger, chamado
de "o cardeal panzer", a Igreja Católica optou
pelo apego à pureza doutrinária e à tradição
como estratégia para se impor a um mundo
volátil e de frágeis valores morais


Mario Sabino, de Roma




O papa panzer, o pastor alemão. "Um simples e humilde trabalhador na vinha do Senhor." Num ponto qualquer entre as alcunhas pejorativas que lhe foram aplicadas nos jornais e a maneira modesta como se referiu a si próprio, depois do anúncio público de que ele havia sido eleito o 265° pontífice da Igreja Católica, encontra-se a verdade sobre o cardeal Joseph Ratzinger, agora papa Bento XVI. Onde fica exatamente esse ponto – que Deus perdoe os precipitados – só será possível verificar no decorrer do seu pontificado, que não deverá ser tão longo quanto o anterior, visto que o novo ocupante do Trono de Pedro conta com 78 anos. João Paulo II tinha 58 quando foi feito papa. Mas um fato é incontestável: em Roma, Bento XVI já realizou o milagre de fazer com que João Paulo II se tornasse uma página virada na história. O severo e reservado guardião da doutrina vem se mostrando afabilíssimo nos seus contatos com a multidão – e parece ter tomado gosto em fazê-lo. Melhor que seja assim, porque não há mais como evitar esses encontros desde que seu antecessor escancarou o Vaticano para o mundo. Meio milhão de pessoas eram esperadas para a primeira grande missa celebrada por Bento XVI, neste domingo.

A eleição de Ratzinger desfez uma convicção e um lugar-comum com raízes na realidade. A convicção: a de que dificilmente seria escolhido um pontífice proveniente de uma nação poderosa, para evitar que houvesse uma coincidência entre o papado e uma potência política e econômica. O lugar-comum: o de que quem entra papa num conclave sai cardeal. Ratzinger entrou papa e saiu papa. Foi uma candidatura que começou a chamar atenção na Páscoa, quanto ele substituiu o combalido João Paulo II na tradicional via-crúcis em torno do Coliseu, em Roma. Em sua homilia, Ratzinger surpreendeu ao falar da "sujeira dentro da Igreja", no que se afigurou como o esboço de um programa de governo. Nas exéquias de Wojtyla, voltaria a causar espanto, mas por outra razão – em sua fala, o duro cardeal alemão revelou-se um amigo emocionado e grato. "O nosso papa, sabemos todos, jamais quis salvar a própria vida, tê-la para si; quis dar-se sem reservas, até o último momento, por Cristo e também por nós", disse Ratzinger. Sua candidatura desabrocharia por inteiro na missa que antecedeu o conclave. Ali, na presença de todos os cardeais eleitores e milhares de fiéis, ele atacou o que chamou de "ditadura do relativismo" e defendeu que a Igreja mantivesse com rigor seus princípios nos campos da moral e da ética. A homilia, que ficou conhecida como "o manifesto de Ratzinger", foi interpretada como uma mensagem corajosa aos participantes do conclave de que ele não abriria mão de sua linha para angariar votos (veja reportagem). Mesmo seus inimigos (e eles não são poucos) se impressionaram. Além disso, seu desempenho nas congregações-gerais, as reuniões de prelados que ocorrem durante a Sé Vacante para decidir sobre aspectos administrativos do Vaticano, foi um exemplo de firmeza e equanimidade. "Muitos viram que ali estava alguém capaz de governar a Igreja", disse um cardeal a VEJA.


"Annuntio vobis gaudium magnum; habemus Papam: Eminentissimum ac Reverendissimum Dominum, Dominum Josephum Sanctae Romanae Ecclesiae Cardinalem Ratzinger qui sibi nomen imposuit Benedictum XVI"

"Anuncio-vos com a maior alegria, temos o papa: Eminentíssimo e Reverendíssimo Senhor Joseph Ratzinger, cardeal da Santa Igreja Romana, que atribuiu a si mesmo o nome de Bento XVI"


Ratzinger era para ser apenas um candidato simbólico da ala de cardeais mais conservadora. Uma vez verificado o tamanho desse campo ideológico, por meio do número de sufrágios obtido, seria lançada uma segunda candidatura, mais palatável a outras correntes e costurada por acordos e acomodações. Essa é uma estratégia comum nas eleições para papa. Mas Ratzinger, tanto pela sua atuação nas diversas ocasiões que pontuaram o pré-conclave como por falta de adversários à altura, não demoraria a passar de candidato simbólico a efetivo. Foram suficientes apenas quatro votações para elegê-lo, o que também desmentiu a tese de que a opção por Ratzinger sairia de um conclave particularmente difícil. Na primeira, de um total de 115 votos, ele obteve em torno de quarenta. Seu rival, o italiano Carlo Maria Martini, candidato simbólico da ala reformista, conseguiu cerca de trinta. Nos escrutínios seguintes, Ratzinger foi aumentando gradualmente seu cacife, até chegar aos dois terços necessários para a eleição. Alguns jornais italianos publicaram que, na primeira votação, Martini superou o alemão e que, ao final, Ratzinger obteve uma vitória triunfal, com perto de 100 sufrágios. Não é verdade. VEJA apurou que Martini nunca esteve à frente de Ratzinger e que este, para ser eleito, angariou pouco mais de 77 votos, os dois terços requeridos.



Entre outras coisas, os cardeais reformistas gostariam que a Igreja permitisse a ordenação de mulheres e anseiam por um afrouxamento nas condenações aos métodos contraceptivos, ao aborto e ao reconhecimento legal do casamento entre homossexuais (o último país a fazê-lo foi a Espanha). Porque o Vaticano é contra tudo isso que está aí, argumentam eles, o catolicismo vem sangrando há vários anos, especialmente na Europa, onde o rebanho diminui a cada ano. Como não conseguirão nada disso sob Bento XVI, os reformistas tendem a crer que a Igreja permanecerá congelada durante o seu pontificado. Que dominará um wojtylismo cinzento – e, pior, sem o carisma nem a criatividade de Wojtyla no campo do diálogo inter-religioso e do ecumenismo. Dessa perspectiva, o catolicismo teria começado a viver um inverno com uma duração, na mais branda hipótese, de quatro a cinco anos, até que Bento XVI seja enterrado nas grutas vaticanas. Parece improvável, no entanto, que o vaticínio se verifique por completo. Logo em seu primeiro discurso aos cardeais, o novo papa abordou uma questão muito cara aos reformistas e esconjurada pelos conservadores: a da colegialidade no governo da Igreja, uma das deliberações do Concílio Vaticano II que permanecem em aberto. E o fez de uma forma que não se esperava: emitindo um sinal positivo. Disse Bento XVI: "Como Pedro e os outros apóstolos constituíram por vontade do Senhor um único colégio apostólico, do mesmo modo o sucessor de Pedro e os bispos, sucessores dos apóstolos – o Concílio reafirmou isso com força –, devem estar estreitamente unidos. Esta comunhão colegial, apesar da diversidade dos papéis e das funções do pontífice romano e dos bispos, está a serviço da Igreja e da unidade na fé, da qual depende em importante medida a eficácia das ações evangelizadoras no mundo contemporâneo. Neste caminho, portanto, no qual avançaram os meus venerados predecessores, entendo prosseguir, unicamente preocupado em proclamar ao mundo inteiro a presença viva de Cristo".



Está certo que, como várias das conclusões do Concílio Vaticano II são vagas, é possível dizer que se está seguindo o caminho previsto por aquela grande assembléia, cujo escopo era abrir as portas da Igreja à modernidade, ainda que se faça o contrário. Mas Ratzinger, na juventude um reformista empedernido, integrante do grupo apelidado de "Teenagers do Concílio", é de uma sinceridade e uma objetividade bem acima da média clerical, qualidades que sempre ficaram evidentes ao longo dos 23 anos em que permaneceu à frente da Congregação para a Doutrina da Fé. Se falou em colegialidade, não terá sido apenas para fazer média. Vaticanistas abalizados acreditam que ele talvez tenha constatado que é impossível governar bem uma multinacional gigante como a Igreja sem uma participação mais ativa dos gerentes de suas filiais pelo mundo – ou seja, os bispos. Longe de abrir mão da autoridade de Roma, e de resvalar no assembleísmo demagógico tão ao gosto dos padres de conveniência, como o brasileiro Frei Betto, Bento XVI poderá, sim, propor um sistema de colegialidade que diminua um pouco a influência e as responsabilidades do aparato burocrático encastelado no Vaticano, a Cúria – na qual, por enquanto, manteve os mesmos nomes do pontificado de João Paulo II. Entre eles, o cardeal Angelo Sodano, secretário de Estado e um de seus desafetos.


Teólogo brilhante, ainda mais poliglota do que João Paulo II (fala catorze línguas, o dobro do papa anterior) e dono de uma cultura literária e filosófica vastíssima (leu, inclusive, Karl Marx – e, claro, no original alemão), Bento XVI é autor de três dezenas de livros. Em todos, por meio de uma prosa cristalina e envolvente, capaz de dar prazer mesmo ao leitor que se lhe opõe, defende a validade da doutrina da Igreja e a necessidade de preservá-la intacta, também como referência e elemento constitutivo do Ocidente. Uma de suas conclusões é que a batalha em prol de um catolicismo mais puro na crença e mais integral na prática deve ser lutada, antes de mais nada, no berço em que, se não nasceu, cresceu: a Europa. Mesmo que isso signifique uma redução ainda maior no número de fiéis, seja no continente europeu, seja ao redor do planeta. Para usar outra vez a imagem da multinacional, Bento XVI acredita que é melhor ter uma sede mais enxuta e funcional – e não tantas filiais frágeis pelo mundo. Em linguagem mais direta, ele privilegia a qualidade dos fiéis, em lugar da quantidade. Há muitos anos, Ratzinger disse: "A Igreja diminuirá de tamanho. Mas dessa provação sairá uma Igreja que terá extraído uma grande força do processo de simplificação que atravessou, da capacidade renovada de olhar para dentro de si. Porque os habitantes de um mundo rigorosamente planificado se sentirão indizivelmente sós. E descobrirão, então, a pequena comunidade de fiéis como algo completamente novo. Como uma esperança que lhes cabe, como uma resposta que sempre procuraram secretamente".

Ratzinger tem plano, tem projeto. Prova disso é o nome que tomou como papa. São Bento, patrono da Europa, foi alguém capaz de reanimar a fé cristã num momento em que ela experimentava a decadência. No discurso "A Europa na crise das culturas", feito um dia antes da morte de João Paulo II, Ratzinger referiu-se ao santo com enorme admiração: "Precisamos de homens como Bento da Norcia. Em um tempo de dissipação e decadência, ele mergulhou na solidão mais extrema e conseguiu, depois de todas as purificações pelas quais devia passar, voltar à luz". Bento XV, por sua vez, foi o papa que tentou evitar que o mundo se digladiasse na I Guerra – de onde é possível concluir também que o atual papa pretende ter um papel importante na pacificação dos conflitos em curso e de profilaxia para que outros não surjam. O primeiro, por sinal, é administrar um problema que ele próprio criou com a Turquia. Ratzinger declarou, quando era cardeal, que aquele país não deveria jamais entrar para a União Européia.

Na Cúria Romana, corre a historieta de que todos os papas, quando morrem, são convidados a ter um colóquio reservado com São Pedro, a respeito de teologia. Desse colóquio, eles invariavelmente saem em prantos, inconsoláveis pelo fato de que tenham errado tanto nessa matéria fundamental durante o pontificado. Mas quando Bento XVI morrer, completam os piadistas, quem sairá chorando dessa conversa sobre teologia será São Pedro. A rigidez doutrinária e moral do papa, somada à disposição que aparenta ter para remover a sujeira da Igreja, deverá causar lágrimas em gente que não é nada santa. Os padres pedófilos, os padres com mulher e filhos, os professores de seminários com os hormônios endiabrados, os padres moderninhos que defendem a teologia da liberação sexual – todo esse pessoal deverá ter a vida dificultada por Bento XVI.

Prevê-se, ainda, que o novo papa não terá a mesma sanha santificadora de João Paulo II. O diálogo inter-religioso é outra área em que Bento XVI deverá ser mais cuidadoso, apesar de dizer que continuará na mesma toada de seu antecessor. Adversário ferrenho da nivelação da fé católica às demais religiões, ele lutava contra os próprios instintos quando João Paulo II encasquetava de promover encontros com líderes de outras crenças. Nesse aspecto, reconheça-se, era um soldado. Em 1986, cardeais conservadores se escandalizaram com o fato de o papa reunir-se a protestantes, judeus, budistas, muçulmanos e representantes de mais uma dezena de religiões na Basílica de Assis para rezarem juntos. Para tais cardeais, isso soava como a equiparação do Deus católico a outros deuses, uma heresia (e, no caso dos budistas, que nem mesmo têm um Deus, uma heresia dupla). Ratzinger, então, saiu-se com uma fórmula sutil. Disse que João Paulo II e os representantes dessas religiões não estavam indo a Assis para rezar juntos. Estavam indo a Assis juntos para rezar. Ou seja, cada um iria orar para seu Deus ou algo que o valesse, e não para o mesmo Deus. Foi o bastante para acalmar os conservadores. Que ninguém subestime o cérebro que está por debaixo da mitra papal.

Veja Online(27/04/2005)

[Modificato da @Nessuna@ 16/03/2006 6.15]

17/03/2006 00:09
 
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Teologia da comunicação na encíclica «Deus caritas est»

Entrevista com o teólogo Giuseppe Mazza

CIDADE DO VATICANO, quinta-feira, 16 de março de 2006 (ZENIT.org).- Giuseppe Mazza, sacerdote e professor de Teologia da Comunicação na Universidade Pontifícia Gregoriana, considera que o assunto tratado por Bento XVI em sua primeira encíclica apresenta «um tema fecundo também para as comunicações».

Nesta entrevista concedida a Zenit, o professor Mazza destaca as implicações contidas em «Deus caritas est», dedicada ao amor, desde a perspectiva da teologia da comunicação.

Em sua atividade acadêmica e em seus livros, o professor Mazza aprofundou na revelação de Deus como ato de amor.

--O senhor é professor de teologia da comunicação. Qual foi sua primeira impressão ao ler a encíclica?

--Mazza: Uma forte ressonância interior. O tema tratado pelo Papa é sugestivo, atualíssimo, inclusive provocador. E o disse como homem, antes que como teólogo e comunicador. Por outro lado, não creio que tenha uma só pessoa que não sinta a questão do amor como radicalmente «sua».

O amor, o amor que se dá e se recebe, está no centro de cada desejo e expressão autenticamente humana, e, portanto, também das perguntas --implícitas e explícitas-- que hoje se fazem as grandes religiões. É um tema fecundo também para as comunicações, que encontram nele uma chave interpretativa muito pertinente.

--Ao dizer que «Deus é amor» entende-se que Deus é também comunicação?

--Mazza: Claro. Pode parecer banal sublinhá-lo, mas é comunicação enquanto amor e é amor enquanto comunicação. O amor é «contagioso» por natureza: deve expandir-se, implicar, inclusive tocar. Não pode deixar indiferentes. Deus é amor neste sentido: amor que se comunica, difunde-se, dá-se sem limites nem reservas.

A possibilidade concreta de compreender sua lógica mais íntima se nos oferece precisamente pela exigência de «globalidade» que caracteriza nossos dias: em um mundo empenhado em comunicar de maneira cada vez mais totalizadora, o amor de Deus pelo homem apresenta-se como algo que engloba a realidade universal: «eros» e «ágape», acolhida e dom, corpo e alma convergem, fazendo da aventura da vida um contínuo impulso para a plenitude do abraço do céu.

--Bento XVI fala do amor cristão. Quando se ensina teologia hoje, insiste-se no amor como categoria principal?

--Mazza: A teologia cristã não pode prescindir dele, sobretudo porque em Jesus Cristo esta contempla o mistério desse amor que se fez carne, marcando a fogo suas próprias marcas na história da humanidade: o Deus cristão --ensinam-nos as Escrituras-- comprometeu-se assim em seu amor apaixonado até fazer-se vulnerável e ficar por ele, paradoxalmente, «ferido»; é um Deus que derrama sangue por amor.

Acusa-se com freqüência a teologia de ser estéril, abstrata, desencarnada. Muitas vezes é verdade. Não se deve contudo abandonar o dever da pesquisa séria e rigorosa, em nome de um lânguido sentimentalismo. O autêntico amor cristão sabe que a maior caridade é a da verdade, inclusive quando se sofre em sua busca.

--O Papa menciona o Cântico dos Cânticos. O que lhe sugere esta referência poética na encíclica?

--Mazza: Falar do amor com o Cântico oferece grandes recursos. O abraço dos dois amantes implica ternura e entrega recíprocas, paixão e lágrimas, implica sentimento e fidelidade na entrega.

Sobretudo, expressa a inenarrável vitalidade de um mistério --o do próprio amor-- no qual se experimenta um êxodo permanente: um contínuo buscar-se, para encontrar-se e seguir-se buscando; uma contínua fuga para a liberdade, que é liberdade-juntos; uma apaixonada e encarnada acolhida da identidade na comunhão.

Não penso que tenha uma só época da história que não seja capaz de compreender esta mensagem: a do amor que assume dignidade sobrenatural, pelo mesmo fato de ter assumido --no encontro de «eros» e «ágape»-- uma autêntica dignidade humana.

17/03/2006 02:47
 
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15/03/2006 - 14h39
Papa pede "coerência" a empresários católicos CIDADE DO VATICANO, 15 Mar (AFP) - O Papa Bento XVI pediu nesta quarta-feira aos empresários católicos "coerência" em sua vida e em sua atividade profissional, dez dias depois de tê-los exortado a rejeitar "toda a forma de exploração" de seus empregados.

Ao término da audiência geral semanal na Praça São Pedro, acompanhada por 30.000 fiéis, o pontífice se dirigiu aos representantes de associações de empresários cristãos italianos.

"Eu lhes peço um testemunho cristão coerente nos diversos aspectos da vida e do trabalho", declarou

[Modificato da @Nessuna@ 17/03/2006 2.48]

17/03/2006 02:57
 
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Papa elogia novos movimentos católicos da América Latina

CIDADE DO VATICANO, 10 mar (AFP) - O Papa Bento XVI reconhece a contribuição essencial para a vida da Igreja dos novos movimentos eclesiásticos da América Latina, reunidos para seu primeiro congresso em Bogotá, Colômbia, informou o Vaticano.

Em uma mensagem divulgada pelo Vaticano e enviada em nome do pontífice pelo cardeal Angelo Sodano, secretário de Estado da Santa Sé, Bento XVI "incentiva" os movimentos eclesiásticos e novas comunidades do continente latino-americano a "compartilhar a riqueza de sua espiritualidade e experiência".

Para o Papa, "o esforço de tais comunidades para revitalizar a consciência do compromisso batismal é sempre uma contribuição essencial para a vida da Igreja".

Na mensagem, o Sumo Pontífice elogia o carisma, os métodos pedagógicos, o estilo de apostolado ou projeção missionária de tais comunidades, chamadas de exemplares.

O congresso, organizado pelo Conselho Pontifício para os Laicos e o Conselho Episcopal Latino-Americano, começou em 9 de março e vai até o dia 12.

Bento XVI também manifesta o desejo de que tais comunidades e movimentos contribuam para da dar um renovado impulso à evangelização em todos os setores da sociedade, apesar das circunstâncias tantas vezes pouco favoráveis a uma existência íntegra e profunda.
19/03/2006 18:42
 
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Nietzsche e o papa

LUÍS CORRÊA LIMA -Padre jesuíta
A primeira encíclica do papa Bento XVI, cujo tema é o amor, traz uma grande novidade: pela primeira vez na história, um papa cita Nietzsche em uma encíclica. O filósofo alemão Friedrich Nietzsche viveu no século 19 e foi, entre outras coisas, um impetuoso crítico da fé cristã. O papa discute as diversas formas de amor, entre as quais o Eros, o amor entre homem e mulher. Para Nietzsche, o cristianismo teria dado de beber veneno ao Eros. Este não morreu, mas ficou viciado. Bento XVI argumenta que o filósofo alemão exprimia aí uma sensação muito generalizada: a de que a Igreja, com seus mandamentos e proibições, torna amarga a coisa mais bela da vida. Ela estaria assinalando proibições precisamente onde a alegria, preparada para nós pelo Criador, nos oferece uma felicidade que nos faz pressentir algo de divino. A resposta do papa é que o Eros necessita de disciplina e de purificação para dar ao ser humano não o prazer de um instante, mas uma amostra do ápice da existência, da felicidade para a qual tende todo o nosso ser. O amor promete a própria continuidade, promete o infinito. Este caminho não é simplesmente deixar-se subjugar pelo instinto, mas um amadurecimento. O Eros não é rejeitado ou ''envenenado'', mas direcionado em vista de sua verdadeira grandeza. Nem tudo o que vai na linha de Nietzsche, porém, é refutado. O pontífice recorda a acusação de o cristianismo ter sido adversário da corporeidade. E admite que sempre houve tendências nesse sentido. Bento XVI leva Nietzsche a sério. O impetuoso crítico da fé poderia simplesmente ser ignorado, como se fosse irrelevante. Poderia também ser desqualificado, como se seu pensamento fosse fruto de ignorância ou preconceito. Poderia até mesmo ser satanizado, considerado alguém que age com má-fé e está a serviço do mal. Mas não. Ele não é ignorado, nem desqualificado e nem satanizado. O seu argumento é racionalmente analisado e contestado. O papa dá um exemplo de maturidade humana, intelectual e cristã. Foi um longo caminho até que Nietzsche pudesse ser citado dessa forma em um documento papal. Há menos de 40 anos, a Igreja Católica tinha o índice de livros proibidos. Era um catálogo onde constavam obras que supostamente contivessem heresias ou outros conteúdos prejudiciais à fé. A criação do Índice remonta ao século 16 e ao combate à reforma protestante. De tempos em tempos, ele era atualizado. O afã de proteger os fiéis gerou inúmeras suspeitas e levou à rejeição de muitos autores e correntes de pensamento. No Brasil, em meados do século 20, chegou-se a proibir crianças de lerem Monteiro Lobato. A abertura da Igreja ao mundo contemporâneo, através do Concílio Vaticano II, tornou caduco o Índice e a tutela das consciências. O diálogo foi encorajado em vários âmbitos. No campo filosófico, vários autores se lançaram no estudo da filosofia moderna. No Brasil, temos a figura do saudoso padre Henrique Vaz, exímio filósofo. Entretanto nem tudo é abertura. Certa vez, um aluno do padre Vaz quis fazer um trabalho, sob sua orientação, tratando de razão e revelação em Hegel. Um outro professor advertiu: ''esta questão já está resolvida por Santo Tomás de Aquino''. De fato, há quem esteja convencido de que tudo já foi pensado e resolvido por este autor do século 13. Sei de um movimento católico ultra-conservador que recentemente quis proibir uma estudante universitária de filosofia de ler Kierkegaard e Nietzsche. Kierkegaard, pensador dinamarquês, é considerado um precursor do existencialismo. Ele chegou a ser citado por João Paulo II como um dos que se insurgiram contra a arrogância da razão. O passado de desconfiança e fechamento ainda pesa. Há quem queira ser mais católico do que o papa. Nesta encíclica, Bento XVI mostra como a Igreja deve lidar com a cultura moderna: sem o medo de quem proíbe, sem a auto-suficiência de quem ignora críticas pertinentes e sem a arrogância de quem previamente desqualifica. Um verdadeiro cristianismo adulto.

Jornal do Brasil
21/03/2006 05:28
 
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Bento XVI e o fundamentalismo

(Ali Kamel em “O Globo)



Quando o então cardeal Joseph Ratzinger disse que a Igreja Católica Apostólica Romana é mãe e não irmã das demais denominações cristãs, ele estava apenas fazendo uma constatação histórica. E, no entanto, a frase causou enorme polêmica tanto na época como agora, quando circulou novamente depois que foi eleito Papa. Tudo o que se passou desde a morte de João Paulo II, no entanto, não é outra coisa senão a prova de que o então cardeal estava certo. O mundo deu foco absoluto ao que João Paulo fez e ao que Bento XVI fará: gente de virtualmente todas as denominações cristãs deu opiniões sobre os caminhos que a Igreja Católica deve adotar. Se a Igreja estivesse de fato fora do tempo, anacrônica e ultrapassada, poucos se dariam a esse trabalho.

Como disse Bento XVI na homilia da missa que marcou o início de seu pontificado: "A Igreja está viva e é jovem."



E anda muito injustiçada. Li em mais de um lugar que a Igreja, no futuro, será responsabilizada pelos milhões de mortos vítimas da Aids na África, por condenar o uso da camisinha. Isso não tem lógica, não faz sentido. A Igreja não condena isoladamente o uso de preservativos; ela prega também a castidade de solteiros e a fidelidade de casados.

Ora, se ela tivesse força suficiente para convencer as pessoas a não usar camisinha, teria também força para que elas se mantivessem castas e fiéis. É ilógica a suposição de que os fiéis seguem uma orientação e não seguem a outra. Pode-se acreditar que a camisinha seja um imperativo no mundo de hoje. Mas não se pode acusar a Igreja de induzir milhões à morte ao discordar disso.



A posição da Igreja neste e em outros assuntos é a prova de sua coragem. A Igreja Católica, como o nome mesmo diz, é uma religião que se pretende universal. Sua missão é se espalhar pelo mundo. Sua existência depende disso. Que ela queira conquistar almas com postulados tão pouco populares é uma prova de sua honestidade, não o contrário. É também um sinal claro do grau de segurança em suas próprias crenças. E, aqui, reside uma enorme confusão conceitual, que Ratzinger, na missa antes do conclave, tentou desfazer mas foi, mais uma vez, mal interpretado: as pessoas só têm ouvidos para ouvir o que querem. Defendendo a doutrina da Igreja, Ratzinger disse que, hoje, todo aquele que defende uma fé clara é rotulado de fundamentalista.

Era, portanto, uma declaração inequívoca de que ter uma fé clara não é ser fundamentalista. Mas, mundo afora, vimos publicadas análises dizendo o oposto: Ratzinger defendera o fundamentalismo.



A raiz da confusão é o significado da palavra "fundamentalismo". Foi no fim do século XIX que protestantes conservadores americanos pregaram o retorno dos cristãos ao que eles chamaram de fundamentos da fé contra toda sorte de inovações. O termo se espalhou , entre 1910 e 1913, com a distribuição de mais de três milhões de cópias de uma série de 12 livros intitulados "Os Fundamentos". O que aqueles cristãos pregavam era uma leitura absolutamente literal dos textos sagrados. Se a Bíblia diz que o mundo foi criado em seis dias, o mundo foi criado em seis dias, ponto final. Com o advento do radicalismo islâmico, por empréstimo, passou-se a também chamá-lo de fundamentalismo. Porque, acreditava-se, o que os fundamentalistas islâmicos pregavam era o retorno do Islamismo aos fundamentos do Islã, à literalidade do Alcorão.



Mas isso foi um equívoco. O que define o fundamentalismo islâmico não é exatamente o apego à literalidade da palavra. O Alcorão, como todos os que já se aventuraram a lê-lo sabem, é carregado de símbolos, metáforas, mensagens cifradas. O que os fundamentalistas fazem é dar ao Alcorão uma interpretação radical e não uma leitura literal. E a sua marca, a sua característica principal, é a tentativa de impor essa interpretação a todos mediante o uso da força e do terror. Uma vez cristalizada a idéia de fundamentalismo como algo essencialmente islâmico o termo passou a ser usado, pejorativamente, para rotular os conservadores cristãos americanos de hoje em dia. Uma volta inconsciente ao início, resultado ou do desapego a conceitos ou do desconhecimento.



Tendo em mente a matriz cristã ou islâmica do termo, chamar de fundamentalista a Igreja herdeira do Concílio Vaticano II, que a revolucionou, é pura ignorância. Nada mais longe da literalidade do que a teologia católica. Da mesma forma, o que a Igreja Católica quer não é a submissão pela força mas a adesão espontânea ao que considera a sua verdade. Isso não quer dizer, no entanto, que a Igreja não se apegue aos fundamentos de sua fé. Isso não a torna fundamentalista, mas faz dela apenas o que ela é: uma fé, uma crença. Não há religião sem verdade, não se pode acreditar "mais ou menos" no que a sua religião diz ser a verdade revelada. Ser crente, de qualquer religião, é exatamente isso: acreditar.



Num mundo como o nosso, admito, nem todos conseguem. Mas é nisso que reside o que as religiões chamam de graça.
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